A propósito, vou hoje referir dois casos, narrados pelo meu pai em 1975. Conheci os seus intervenientes (já falecidos), as casas onde os factos ocorreram (ainda hoje exteriormente intactas) e posso solenemente assegurar que essas pessoas eram inteligentes, honestas, cultas e sensatas. Como é natural, o acontecido intrigou-as e a uma delas (uma senhora), o caso provocou-lhe algum susto, como descreve o meu pai:
"Uma senhora das minhas relações, respeitável a todos os títulos, conta o seguinte, com a maior das convicções. Uma das primas dela, companheira de brinquedos, foi para África, com os pais. Ora, poucos meses depois do embarque, a referida senhora (era então menina dos seus oito anos) ao passar num corredor da casa que habitava, olhou para dentro de um quarto e qual o seu espanto quando viu a amiga, deitada num caixão, com as mãos postas, os olhos fechados e com um lindo vestido azul. Assustou-se. Gritou. A mãe veio a correr...mas a aparição tinha-se sumido, como por encanto. E só a menina a vira...Passados tempos, chegou carta de África, relatando o falecimento da pequena amiga, vitimada por febre repentina. Conjugando as datas, verificou-se, com pasmo, que o enterro se dera precisamente às horas que fora vista aqui em Viana. E mais tarde, quando os africanistas regressaram em curtas férias, a mãe da morta contou que a desaparecida, nos últimos momentos, chamara a amiguinha de brinquedos e que, efectivamente, levara para a sepultura o lindo vestido azul de que gostava tanto..."
O outro caso relatado pelo meu pai também é muito curioso:
"Um amigo meu, depois de alguns anos em Inglaterra, regressou a Portugal e comprou uma casa aqui bem perto, numa aldeia junto à praia. A casa, de muito boa construção, encontrava-se desabitada havia já alguns anos, pois corria que estava assombrada. Tinha sido contruída por um capitão de navios que nela vivera e falecera em circunstâncias um tanto ou quanto misteriosas e o facto é que, os próprios herdeiros, assustados com factos estranhos - e que a habitaram algum tempo - se viram obrigados a deixá-la. Ao princípio, tentaram alugá-la, mas depois, dados os rumores que sobre ela corriam, foi posta à venda, a um preço muito convidativo. Mesmo assim, a casa conservou-se vaga, até que o tal meu desempoeirado amigo se decidiu a adquiri-la. Vinha, como disse, de Inglaterra - país muito dado a fantasmas domésticos e onde não há castelo nem casa senhorial que se preze que não seja visitada por fantasmas, mais ou menos terrificantes. Achou graça ao que se dizia e isso serviu-lhe, até, de incentivo. Lá instalado, o certo é que factos anormais - ruídos maiores ou menores, absolutamente inexplicáveis - começaram a fazer-se ouvir. Não se assustou (nem ele nem a mulher, igualmente livre de preconceitos) e procuraram, por todos os meios, verificar as causas do fenómeno. Mas o facto é que a "coisa" se lhes escapava. Por fim, assentaram que lá o que era fazia-se notar por passadas: alguém, absolutamente invisível, andava na casa, subia e descia as escadas, ia a certo quarto...e sumia-se. Isto ocorria a certas horas da noite e não em todas. Chegaram à conclusão de que o fantasma só aparecia nas noites de lua cheia e, nessas, era infalível. E como já lhe conheciam a mania, deixavam-no andar à vontade, acomodando-se àquela presença inofensiva. Um dia, o fantasma variou o passeio habitual. Deixou de subir e descer as escadas e de visitar o tal quarto (aquele que morrera o capitão) e limitou-se a passear pelo corredor que, da porta de entrada, levava à cozinha, situada precisamente no outro lado da casa. Entrava (com a porta fechada), ia à cozinha, voltava pelo menos caminho e...sumia-se. Ouviam-se distintamente os passos: de pessoa idosa, passos pesados, vagarosos...O corredor tinha interruptores de luz eléctrica. E mais uma vez o meu amigo e a mulher, nas noites de lua cheia (nas tais em que a visita do fantasma do capitão era certa) colocavam-se junto dos interruptores, com a casa às escuras. Mal ouviam os passos esperavam que a "coisa" passasse por cada um deles. Acendiam a luz. Nada viam; os passos sumiam-se. Voltando a apagar a luz, os passos continuavam, um pouco mais além. Isto repetiu-se várias vezes. Por fim, encolheram os ombros...e deixaram o fantasma à vontade, com a sua mania deambulatória. Aconteceu, porém que o meu amigo resolveu fazer grandes obras em casa. E uma delas foi cortar o corredor, abrindo outra entrada, directa, para a cozinha, isto é, sem devassar a casa toda. E o certo é que o fantasma...nunca mais se ouviu!" Como já disse, conheci as pessoas referidas, conheci as casas, mas confesso que, para tão insólitos casos nunca conheci explicações convincentes...
"Um amigo meu, depois de alguns anos em Inglaterra, regressou a Portugal e comprou uma casa aqui bem perto, numa aldeia junto à praia. A casa, de muito boa construção, encontrava-se desabitada havia já alguns anos, pois corria que estava assombrada. Tinha sido contruída por um capitão de navios que nela vivera e falecera em circunstâncias um tanto ou quanto misteriosas e o facto é que, os próprios herdeiros, assustados com factos estranhos - e que a habitaram algum tempo - se viram obrigados a deixá-la. Ao princípio, tentaram alugá-la, mas depois, dados os rumores que sobre ela corriam, foi posta à venda, a um preço muito convidativo. Mesmo assim, a casa conservou-se vaga, até que o tal meu desempoeirado amigo se decidiu a adquiri-la. Vinha, como disse, de Inglaterra - país muito dado a fantasmas domésticos e onde não há castelo nem casa senhorial que se preze que não seja visitada por fantasmas, mais ou menos terrificantes. Achou graça ao que se dizia e isso serviu-lhe, até, de incentivo. Lá instalado, o certo é que factos anormais - ruídos maiores ou menores, absolutamente inexplicáveis - começaram a fazer-se ouvir. Não se assustou (nem ele nem a mulher, igualmente livre de preconceitos) e procuraram, por todos os meios, verificar as causas do fenómeno. Mas o facto é que a "coisa" se lhes escapava. Por fim, assentaram que lá o que era fazia-se notar por passadas: alguém, absolutamente invisível, andava na casa, subia e descia as escadas, ia a certo quarto...e sumia-se. Isto ocorria a certas horas da noite e não em todas. Chegaram à conclusão de que o fantasma só aparecia nas noites de lua cheia e, nessas, era infalível. E como já lhe conheciam a mania, deixavam-no andar à vontade, acomodando-se àquela presença inofensiva. Um dia, o fantasma variou o passeio habitual. Deixou de subir e descer as escadas e de visitar o tal quarto (aquele que morrera o capitão) e limitou-se a passear pelo corredor que, da porta de entrada, levava à cozinha, situada precisamente no outro lado da casa. Entrava (com a porta fechada), ia à cozinha, voltava pelo menos caminho e...sumia-se. Ouviam-se distintamente os passos: de pessoa idosa, passos pesados, vagarosos...O corredor tinha interruptores de luz eléctrica. E mais uma vez o meu amigo e a mulher, nas noites de lua cheia (nas tais em que a visita do fantasma do capitão era certa) colocavam-se junto dos interruptores, com a casa às escuras. Mal ouviam os passos esperavam que a "coisa" passasse por cada um deles. Acendiam a luz. Nada viam; os passos sumiam-se. Voltando a apagar a luz, os passos continuavam, um pouco mais além. Isto repetiu-se várias vezes. Por fim, encolheram os ombros...e deixaram o fantasma à vontade, com a sua mania deambulatória. Aconteceu, porém que o meu amigo resolveu fazer grandes obras em casa. E uma delas foi cortar o corredor, abrindo outra entrada, directa, para a cozinha, isto é, sem devassar a casa toda. E o certo é que o fantasma...nunca mais se ouviu!" Como já disse, conheci as pessoas referidas, conheci as casas, mas confesso que, para tão insólitos casos nunca conheci explicações convincentes...
Escrito por: José Luís Azevedo Rosas de Araújo.
Retirado de "A Aurora do Lima"; Número 21; Sexta-feira, 12 de Março de 2010; página 12