Vais a passear num parque, passas por um homem que tropeça e deixa cair algumas moedas no chão. Observando-o, sabes que já viste aquilo antes. A posição do homem, a sua expressão e a maneira como as moedas estão no chão, tudo se repete igualzinho ao que já viste antes. Mas sabes que nunca viste aquilo na vida, ou seja, está a ter um déjà vu (“já visto”, em francês).
Déjà vu é um efeito cerebral físico, é causado por uma eventual falha na gravação da memória de curto prazo no cérebro. Quando existe essa falha ela reconhece tudo como se já o tivesse vivido, pode parecer até que já sabíamos o que homem das moedas ia fazer, mas isso é também físico cerebral, os sons chegaram á muito tempo ao nosso cérebro, ele já tomou consciência do significado das palavras antes de a consciência objectiva se dar conta disso, quando há uma falha, há um desvio temporal, que pode ser percebido como se já soubéssemos o que a pessoa iria falar ou fazer.

Mas depois, C’est fini. Acabou o déjà vu. A familiaridade com a cena desaparece em segundos. Tudo fica tão imprevisível como antes. E tudo o que sobra é a lembrança de uma experiência quase mística. Mas que não tem nada de única, estudos nos EUA e na Europa indicam que até dois terços das pessoas já tiveram déjà vu pelo menos uma vez na vida.
O campeão de déjà vu, Morton Leeds, um estudante americano dos anos 40. O rapaz tinha a extraordinária média de um déjà vu a cada 2,5 dias. E passou um ano a registar as ocorrências num diário, com precisão científica. Por exemplo, às 12h25 de 31 de Janeiro de 1942 ele escreveu: “Foi extremamente intenso. Um dos mais completos que já tive. Parei em frente a uma loja, e a coisa cresceu e cresceu. Enquanto isso, a sensação de que eu poderia prever a cena seguinte ficava maior. Foi tão forte que tive náuseas”. Com essa base de dados, Morton concluiu que a maior parte dos déjà vus acontecia em momentos de stress. Os resultados das nossas pesquisas actuais, com pacientes que respondem questionários sobre os seus déja vus, mostram exactamente isso, embora não saibamos a razão. Eles também deixam claro que os mais jovens e viajados são os mais propensos a senti-los.
Especialistas que se dedicaram ao assunto, foram á procura de respostas, em clínicas psiquiátricas atrás de pessoas com déjà vus ainda mais frequentes que o de Morton Leeds, e o que encontraram foi assustador. Um dos pacientes, em 2000, achava que sabia tudo o que aparecia nos jornais ou na televisão. Outro parou de jogar ténis, porque dizia que já sabia o resultado no fim de cada jogada.
Já existem várias teorias que explicam o déjà vu, e que vão acabando com a sobrenaturalidade desta experiência. Mas será mesmo assim?